Aceitar as sombras é diferente de se tornar sombria...
- Verônica Marinho

- 17 de abr.
- 11 min de leitura

No conto Vasilisa, A Bela, uma mãe muito bondosa e amorosa, em seu leito de morte, entrega uma boneca à sua filha Vasilisa, dizendo que sempre que precisasse, a boneca a guiaria. Após o luto, seu pai se casa novamente, e como estamos falando de contos de fadas, é claro que se casa com uma megera com duas filhas igualmente maldosas.
Querendo que Vasilisa morresse, a madrasta e suas filhas planejam enviá-la para a floresta perigosa para pegar o fogo de Baba Yaga, a bruxa malvada!
"Você é a única que tem condições de sair floresta adentro para encontrar Baba Yaga e conseguir dela uma brasa para acender nosso fogo de novo."
Vasilisa, sempre tão amorosa, gentil e prestativa, embarca no desafio. E como todo bom conto alquímico, encontra o cavaleiro de preto (nigredo), de branco (albedo) e de vermelho (rubedo). Sua boneca, contendo a sabedoria de sua mãe bondosa, a guia pelo caminho, até que ela encontra a bruxa assustadora e sua casa de pés de galinha.
Na linguagem simbólica e na vida, não conseguimos nada sem passar por provas. E para conseguir o fogo e poder voltar pra casa, Vasilisa precisa cumprir as tarefas ordenadas por Baba Yaga. E ela consegue, sempre com ajuda de sua boneca - que recomenda inclusive momentos de ficar calada e parar de encher a paciência da bruxa.
Quando Baba Yaga pergunta onde ela conseguiu o juízo tão grande para sua idade, Vasilisa diz inocentemente que foi uma bênção de sua mãe. A bruxa então esbravejou:
"Bênção?! Bênção?! Não precisamos de bênção nenhuma aqui nessa casa. É melhor você procurar seu caminho, filha."
E a enxotou após entregar uma caveira com seu fogo.
Sendo guiada pela boneca de sua mãe e pelo fogo de Baba Yaga, Vasilisa voltou para casa, vitoriosa, cumpriu a missão! A caveira então queimou a madrasta e suas filhas por dentro, reduzindo-as a cinzas.
Fim!
Baba Yaga é uma representação da nossa sombra no "pior" sentido que existe. Aquele lado nosso que não gostamos de admitir e que não é socialmente aceito. Egoísmo, maldade, arrogância, ódio, rancor, mágoa, inveja, ciúmes, e por aí vai... pode inclusive levar em conta aspectos mais pesados, dessa e de vidas passadas.
É comum ouvir dizer que precisamos incorporar nossa sombra, e isso é bem verdade, mas não no sentido de nos tornarmos efetivamente sombrias. Admitir que sentimos ódio, por exemplo, é diferente de propagar ódio. Usar a energia do ódio como combustível para promover mudanças positivas e saudáveis na sua vida é uma coisa. Difamar, bater, se vingar é simplesmente propagação de mais ódio no mundo.
Aceitar que a sombra existe é o primeiro passo. Identificar a sombra é o segundo. Buscar purificação é o terceiro. Essa é a verdadeira rendição!
Agir como uma megera é apenas falta de entendimento do que é a verdadeira integração, e uma dose de humildade ajuda muito nesse caso.
Só o que é de verdade sobrevive ao fogo e o conto deixa bem claro que as megeras sucumbem no final. Não é a maldade e a arrogância que permanecem no final da história. Pelo contrário: o conto termina apenas com Vasilisa, sua boneca e seu fogo. A única sobrevivente é a menina, logo ela: a gentil, a amorosa, a que tem pureza no coração e é, portanto, A Bela.
Sem contar que quem sempre indica o caminho e conduz a menina em segurança é a boneca de sua mãe - a mãe boa! Baba Yaga entrega o fogo, mas quem a conduz efetivamente é a energia do amor.
Baba Yaga não aceita bênçãos, isso é incompatível com sua energia. Mas ela oferece a sabedoria (o fogo) para Vasilisa, transformando-a, quem sabe, numa bela eremita do tarot carregando sua lanterna.

O conto não é sobre se tornar uma versão caricata de aspectos sombrios, e sim sobre transformar nossas sombras em sabedoria.
Os contos, no geral, ensinam que ficar na segurança e conforto da mãe boa nos impede de crescer, pois precisamos de experiências. O envio para a morte promovido pelas madrastas é isso: vai pra vida, vai aprender com seus erros, vai descobrir seu caminho!
Mas a história de Vasilisa, A Bela, nos mostra que a mãe boa permanece sempre conosco, e por mais que em algum momento do nosso caminho evolutivo a gente se transforme em Baba Yaga, a bondade e o amor sempre permanecem e indicam por onde seguir. Basta que a gente queira escutar.
Poder sem pureza de coração é corrompido. Respeite o processo e purifique-se! O amor sempre é a resposta.
Baba Yaga é minha deusa regente do ano, mas ela está regendo nossa semana coletiva (14-20/04/25). Decidi transmitir a sabedoria que ela me ensinou ao longo de encarnações como um grande rito de passagem, expondo minha verdade nua e crua, me apropriando do meu fogo e do meu caminho.
*Aviso de eventuais gatilhos de situações pesadas que ocorreram em vidas passadas*
Não sou santa, mas estou pronta para me render ao amor. E digo amor em sentido muito além do romântico (apesar de também querer o romântico, viu, universo?!).
Já fazem 9 anos que embarquei no autoconhecimento, mas apenas há alguns anos comecei a acessar aspectos críticos do caminho da minha alma. Não exatamente me orgulho, já que começou quando conheci um cara (*rs*), mas essa é minha história. Fazer o que se minha falta de SAL alquímico me fez tentar preencher meu vazio com homi até entender que precisava me preencher de mim?
Meu cardíaco expandiu no momento que trocamos o primeiro olhar e as primeiras palavras. Não imaginava que fosse possível sentir isso, e foi a segunda coisa mais linda que já senti em toda minha vida, só sendo superada por uma experiência espiritual.
Se o encontro com esse cara fez isso, é claro que ele é "O" cara.
Eu só me esqueci que a vida é um eterno confronto com a Esfinge para testar nosso discernimento, e ignorei o aviso básico: "decifra-me ou te devoro".
Não consegui sequer desenvolver amizade com ele, apesar de alguns alinhamentos e interesses em comum. Sofri, viu?! Sofri, esperneei, chorei. Abrir mão da possibilidade do que nem vivi (nessa vida) foi uma das experiências mais dolorosas que já passei. Ainda mais porque não encerrou de uma vez. Foram muitas camadas nessa história, provando que os acontecimentos da vida são, de fato, uma grande espiral.
Nossa história vem de vidas, e ele sempre me abandonava, escolhendo toda honra e toda glória que a carreira poderia oferecer. Como se amar fosse menos importante.
Entendi que ao longo das vidas acabei focando demais no amor. Fiquei no extremo oposto dele, então de certa forma, eu estava sendo igual e tão limitada quanto. Polarização nunca é a resposta, e não à toa os grandes mestres e filósofos sempre recomendam o caminho do meio.
Certa noite tive um sonho em que eu estava descendo uma rua muito escura e perigosa de noite, e vi cinco cobras em forma de oroboros, acredito que para representar cinco encarnações vivendo as mesmas coisas, comendo meu próprio rabo.
Eventualmente descobri que em uma dessas encarnações, ele me abandonou grávida e eu me desvivi, junto com o bebê. Falei que não sou santa, né?! Maldade, egoísmo e falta de amor próprio, que só poderia resultar em falta de amor ao próximo.
Em alguma encarnação, eu amarrei esse cara. Acho que por isso encontrei com ele nessa. Se eu soubesse que amarração se leva para outras vidas, talvez eu não tivesse feito. Mas pela falta de autoestima e amor próprio que eu sempre carreguei comigo, talvez saber disso não teria de fato influenciado minha decisão.
Como pode meu cardíaco ter expandido num movimento tão belo e puro quando conheci esse cara se nossa história é tão cagada?
Como pode esse encontro ter me alinhado de tal forma que foi depois dele que me descobri alquimista e entendi ainda mais sobre meu propósito se nossa história é, repito, TÃO CAGADA?
E então eu entendi o que é a energia do PERDÃO. No outro plano, eu já tinha sido perdoada. Encontrei com ele nessa vida para encerrar essa história, afinal, o que se gera aqui, precisa ser resolvido aqui. E também para ter real noção do impacto das minhas ações numa grande lição kármica.
Ele me perdoou e foi essa energia que abriu meu cardíaco. Eu, na minha carência e falta de mim, que levei logo o sentimento para o campo amoroso.
O encontro com ele tirou a placa de madeira metafórica do meu peito. Deixou uma placa de vidro, já mais sutil, que estilhaçou de vez quando abri mão de qualquer tentativa de contato.
Foi muita limpeza energética, atuação das plantas e força de vontade para me curar dessa história. E eu consegui! Certa noite, durante o sono, senti a pulseira invisível do meu pulso se romper. Ele já estava livre, e agora eu também estou.
Eu parei de comer meu próprio rabo! (Fiz até uma tattoo para celebrar!)

E isso é pouco falado por aí. Oroboros é um símbolo alquímico maravilhoso para representar a ciclicidade da vida: do pó viemos, ao pó retornaremos. Mas ele também pode representar repetições eternas de histórias e padrões.
A alquimia me proporcionou essa possibilidade de romper com ciclos que já cumpriram sua função e não tem mais razão de ser. Uma hora a gente precisa assumir a responsabilidade e transformar os erros em sabedoria.
Não por coincidência, nessa época eu estava usando uma alquimia que desenvolvi pra mim, que apelidei carinhosamente de Minha Rainha de Paus, pois assim como Penélope se apropriou de sua vida enquanto esperava Ulisses voltar da guerra, eu comecei a fazer o mesmo. Enquanto desapegava do cara, fui firmando meu caminho e entendendo o que eu estava criando. Eu aprendi a me preencher de mim, e que maravilhoso é se preencher de si!
Foi um processo de paz e amor e gratiluz? Definitivamente não. Eu fui rejeitada. De novo! O ódio que isso me deu não tem nem como descrever. Mas ao invés de me tornar odiosa, fiz vários tratamentos energéticos. Fiz (e usei) alquimia. Acendi vela pros meus guias pedindo pra me limpar e me dar força pra suportar mais um coração partido ("saudade do que não vivi", para ser ainda mais patética). Fiquei na posição de agachamento sumô (para liberar traumas do chakra básico) gritando numa almofada. Pulei sacudindo braços para ajudar a liberar essa história do corpo. Choros e mais choros, com direito a olho inchado e catarro. Definitivamente não foi uma visão bela e agradável.
Fui visceral e ainda assim não me rendi ao ódio ou à vingança. E não sou maravilhosa por isso, fiz apenas o básico. Eu que sinto? Eu que lide! Sem influenciar o caminho alheio.
E você pensa que para por aí? Claro que não, e olha que tô sendo resumida!
Descobri que muito lá trás, não sei em qual encarnação, eu vendia veneno de plantas para quem queria desviver pessoas. E fui desvivida, novamente grávida, com meu próprio veneno por uma mulher - e muito, muito, muito provavelmente, tinha outro cara envolvido nessa história.
Esse cara apareceu no meu chakra cardíaco durante uma aplicação de reiki. Já tava eu nos meus instintos achando que agora sim "O" cara. Mas me lembrei de decifrar a Esfinge dessa vez. Não é porque apareceu no cardíaco que tenha que significar alguma coisa. Pode ser só mais uma história sobre perdão.
E foi então que entendi sobre o fogo de Baba Yaga.
Eu sou essas sombras todinhas. Falta de amor próprio, falta de autoestima, invejosa, carente, egoísta, assassina, corrompida, ladra, abandonada, rejeitada, odiosa, rancorosa...
Mas eu também sou luz!!!
Minha alma guarda todas essas cicatrizes, e é por isso que eu posso dizer com muita propriedade que o amor é a resposta.
Onde eu estaria se eu não tivesse sido perdoada quando errei?
Onde eu estaria se a espiritualidade de luz não tivesse me acolhido e me ajudado e me dado colo e esporro quando precisei? "Vou tirar ele da sua vida enquanto você não entender que a vida não pode girar em torno de amor romântico" (meu Exu, em sonho).
Onde eu estaria se eu não tivesse topado o desafio de encarnar e lidar com todos esses karmas?
Onde eu estaria se eu não tivesse encontrado profissionais holísticas e psicólogas maravilhosas que me ajudaram (e ajudam) a lidar com tudo isso?
Onde eu estaria se o universo não fosse incrivelmente misericordioso e não tivesse me dado a oportunidade de fazer diferente (e melhor) ao trabalhar com as plantas?
Eu não quero mais viver esses ciclos de dor, sofrimento, morte, ódio, competição. E como o universo não entende não, eu reformulo: eu quero viver o amor, a gratidão, a abundância, a prosperidade, a cura!
Eu acompanho muito conteúdo de bruxaria, e às vezes me assusto com algumas coisas que são faladas e ensinadas. Não vou ser gratiluz e falar algo do tipo "não entendo como alguém pode fazer isso". Porque eu entendo!
Eu propago a palavra do amor, do respeito ao livre arbítrio, do desapego, não por hipocrisia ou para parecer santa, mas sim porque percebi na prática, na pele, na ALMA, que esse é o caminho de menor resistência.
Eu entendo o vazio que leva ao apego. Eu entendo a sedução do poder. Eu entendo a vontade de querer fazer com que o outro pague. Eu entendo o que é estar na bolha narcísica que faz a gente querer tudo do jeito que a gente quer, na hora que a gente quer. Eu entendo tanto que me assusta... é só olhar meu mapa (*rs*).
Mas existe outro caminho, com menos resistência, com mais amor e gentileza.
Num mundo cada vez mais polarizado, inclusive no meio espiritual, é preciso ser muito forte para falar e defender o amor.
"Quem é que tem coragem pra falar de amor?
Quem é que tem coragem de ser o que é?"
(Poesia Acústica #3 - Capricorniana)
Todo mundo quer um mundo melhor. Qual a sua participação para que as coisas efetivamente mudem?
Me aproprio das minhas sombras, mas meu caminho é na luz.
Espero ter amigos que apontem meus erros (com gentileza, por favor). Espero ter humildade para receber e avaliar as críticas. Espero ter sabedoria e discernimento para entender o que for preciso e para tomar as melhores decisões.
Esse é o meu fogo, a minha história, a minha verdade.
Integrei minha Baba Yaga, mas eu sou mesmo é Vasilisa!
Também pode me chamar de Cinderela, mas isso é papo pra outro post.
Aprendam com meus erros e se poupem de sofrimentos futuros.
E lembrem-se: para todo erro, existe a rendição.
Meu compromisso com esse caminho de cura é muito sério. Já mais que firmei minha responsabilidade. Que agora eu possa trazer mais leveza e prazer para os processos.
Às vezes o caminho evolutivo exige um pouco mais de nós. Encarar algumas sombras, mesmo que de vidas passadas, requer força, coragem, centramento, confiança e vontade efetiva para transformar o que não tem mais razão de ser. Também requer compaixão com a gente mesma, pois assim como nos livros e filmes, se não houvesse erro, não haveria história! Se trate com carinho. O que importa de verdade é quem você é AGORA.
Sempre temos opção de melhorar e seguir por um caminho mais amoroso e gentil. A boa notícia é que as plantas podem nos ajudar durante todo o processo.
Em breve abrirei novamente a agenda para alquimia personalizada e da estação para honrar ainda mais o meu caminho.
Alquimia é magia, mas não é solução mágica.
As plantas só transformam a vida de quem se permite transformar.
Abra-se para essa oportunidade!

Verônica é engenheira química e doutora em ciências por formação, e se descobriu alquimista de coração (agora também de formação). Após uma grande noite escura da alma promovida por um burnout e por uma fuga de si mesma, descobriu os óleos essenciais e com isso foi impossível não se transformar. Em 2020 saiu da pesquisa acadêmica para ouvir o chamado do coração para trabalhar com as plantas. Desde então foram muitos processos internos, muito estudo, e muita aplicação de diversos conhecimentos adquiridos em diferentes áreas: filosofia, espiritualidade, aromaterapia, alquimia, florais, perfumaria natural, numerologia, tarot, e mais tantas outras coisas. Mais do que falar sobre alquimia e autoconhecimento, Verônica vive o processo de forma muito intensa e profunda, trazendo muita vivência e experiência reais a tudo que faz. Afinal, seu Sol em Gêmeos, tipicamente superficial, é apenas um dos aspectos de seu mapa, repleto de profundezas, intensidades e oposições. Orai e vigiai é eterno para o tanto de oposições que lhe são peculiares, mas a possibilidade de conhecer tanto os extremos lhe dá a esperança de que conseguirá chegar no caminho do meio tão sugerido pelos grandes filósofos.



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